sábado, 2 de abril de 2011

LENDAS INDÍGENAS

A FESTA DO JABUTI


Mal clareara o dia, e a mãe de Piritu já estava peneirando uma massa de mandioca e batata roxa para preparar sakura, uma bebida fermentada que o Tiriyó costumam dizer que se parece com a cerveja dos brancos. Nessa época do ano, o sol nasce cedo atrás das montanhas e nos campos da fronteira de dois países vizinhos Brasil e o Suriname, lá no norte do Pará, onde moram os Tiriyó.

Piritu ainda dormia, mas a agitação crescia na sua casa e nas outras da aldeia, na medida em que as pessoas iam acordando. Na casa de Piritu, sua irmã também já estava em pé, ajudando a mãe a preparar a bebida. Quando Piritu acordou, com os olhos cheios de remela de quem tinha dormido bem a noite toda, sua mãe já estava com três panelas grandes, cheias até a boca, com a bebida. Aí abriu a boca para perguntar sobre onde andava seu pai, calou-se ao ver as panelas de sakuru.

A imagem da bebida, em tom arroxeado, por causa da batata, trouxe-lhe à lembrança as conversas da noite anterior, em que seu pai e outros homens da aldeias combinavam de sair para a mata bem cedo, quando o céu ainda estivesse escuro, para encontrar com outros homens que há dois dias atrás haviam ido caçar jabutis. A recordação daquela conversa fez com que eles ficassem eufóricos e abrissem um sorriso maroto.

E havia um motivo: é que naquele dia, no final da manhã, os homens voltariam para a aldeia, trazendo jabutis e outros bichos que conseguissem caçar. E com a sua chegada, começaria a festa do jabuti e a festa de natal.



COMO SURGIU A LUA

Vivia numa tribo uma cobra enorme, a Boiúna Capei, que aterrorizava os índios.

Para que a Boiúna não atacasse os índios, o cacique prometeu que lhe daria sua filha Naipi em casamento. Naipi era uma jovem formosa e de bom coração.

Naipi queria salvar a tribo, mas na verdade era apaixonada por Titçatê, um valente guerreiro.

Quando estavam juntos, até a natureza comemorava, tão grande era o amor um pelo outro.

Quando chegou o momento de Naipi ser entregue à Boiúna, ela rompeu em pranto e, de joelhos, suplicou ao pai que não a levasse.

Titçatê, cheio de coragem, colocou-se à frente da cobra gigante, empunhando arco e flecha.

Vendo que era rejeitada pela formosa índia, Boiúna ficou furiosa e usou seus poderes para transformar a moça numa cachoeira chorosa.

O guerreiro foi transformado numa linda planta de flores roxas, que ficou boiando sobre a água.

Vendo a forma como fora destruído o amor dos dois jovens, os outros índios encheram-se de coragem e atacaram Boiúna, arrancando-lhe a cabeça.

Como castigo por sua maldade, Tupã ordenou que a imensa cabeça da cobra fosse pendurada no céu durante a noite e, na forma de Lua, ficasse a iluminar o amor de Naipi e Titçatê.

IARA

Você já viu uma sereia?

As sereias estão no imaginário popular desde cedo. São muitas as história que ouvimos falando deste ser encantado.

A Iara é uma lenda do folclore brasileiro comum na região amazônica.

Dizem que a Iara é uma bela mulher, parecida com uma índia de longos cabelos negros.

Ao entardecer ela sai das profundezas d'água e vem sentar-se numa pedra onde penteia os cabelos com um pente de prata, mirando-se num espelho.

O que diferencia a Iara de uma mulher comum é sua forma: mulher até a cintura e ao invés de pernas humanas, ela possui uma longa cauda como um peixe.

Com sua voz delicada e seu canto maravilhoso, a Iara seduz os homens, que hipnotizados, são levados para o fundo dos rios, onde desaparecem para sempre.

Se você ouvir um belo canto à bera de um rio, cuidado! Pode ser o canto da sereia...



COMO SURGIRAM AS ESTRELAS

Era um tempo de grande seca para as tribos e não havia alimento. As índias reunidas saíram em busca de comida para os maridos e os filhos.

Procuraram por todo o lugar, mas não viam caça, nem fruto, nem nada para comer. Então resolveram levar junto um grupo de curumins para darem sorte.

E deu certo. Logo acharam um grande milharal em que as espigas não haviam sido atingidas totalmente pela seca. Ali, puderam encher os cestos com espigas amarelinhas.

Os curumins também ajudaram a colher o milho, mas ficaram com fome e voltaram antes para tribo, carregando uma boa parte.

Na tribo, pediram para a avó fazer um bolo. Ela fez e não demorou a comerem tudinho. Só ficaram as migalhas que os pássaros devoraram.

Quando terminaram ficaram com vergonha. Como podiam ter comido tudo sozinhos quando todos estavam com fome?

Com medo de que as mães os repreendessem, eles trataram de fugir. Pediram para o colibri que amarrasse no céu o maior cipó que encontrasse, e por ele começaram a subir.

Quando notaram o sumiço dos curumins, as índias ficaram preocupadas e voltaram correndo para a tribo. Quando chegaram, viram os curumins subindo o cipó.

Assustadas, elas começaram a subir também os cipós para salvar os curumins, mas eles estavam cada vez mais alto.

O cipó não era forte e rompeu com o peso. As índias caíram no chão, transformando-se em onças. Os curumins, que já estavam no céu, não conseguiram mais voltar.

Assim, durante a noite, da tribo, quem olhasse para o céu ainda podia ver os pontinhos brilhantes dos olhinhos dos curumins, transformados em grandes estrelas



COMO SURGIU A NOITE

No começo do mundo, só havia dia. A noite estava adormecida nas profundezas das águas com Boiúna, uma cobra grande que era senhora do rio.

A filha de Boiúna, uma moça muito bonita, havia se casado com um rapaz de um vilarejo, nas margens do rio. N a hora de dormir, ela não conseguia e explicava para marido:

- É porque ainda não é noite.

Um dia, a moça pediu ao marido que fosse buscar a noite na casa de sua mãe. Ele mandou três amigos às profundezas do rio para falar com Boiúna.

Boiúna colocou a noite dentro de um caroço de tucumã, uma fruta da palmeira, e mandou entregar como se fosse um presente para sua filha.

Os três amigos carregavam o tucumã quando ouviram o barulho de sapinhos e grilos, bichinhos que só cantam à noite. Curiosos, resolveram abrir o tucumã para ver que barulho era aquele.

Quando o tucumã foi aberto, a noite escapou e tomou conta de tudo. O mundo virou uma escuridão só.

A filha de Boiúna viu o que tinha acontecido e tentou separar a noite do dia. Pegou dois fios, enrolou o primeiro, pintou de branco e disse:

- Você será Cujubim e vai cantar sempre que o dia nascer.

Então, soltou o fio, que se transformou em pássaro, e saiu voando.

Depois, enrolou o outro fio, jogou cinza sobre ele e disse:

- Você será Coruja, e cantará quando a noite chegar. A coruja saiu voando.

A partir desse dia, o mundo passou a ter dia e noite.

A LENDA DA MANDIOCA



A mandioca é uma raiz amidosa, muito volumosa, usada para fazer um especial tipo de farinha. A farinha da mandioca faz parte da comida diária dos nativos da Amazonia, e é usada só ou acompanhada de arroz, batata, milho, e como acompanhamento para peixe, carne ou feijão.

Esta raiz possui um forte veneno, cianide que precisa ser eliminado durante a preparação da farinha. Isto é feito durante o cozimento ou fermentação da raiz. A massa obtida é tostada e está pronta para armazenagem.

Em épocas remotas, a filha de um poderoso tuxaua foi expulsa de sua tribo e foi viver em uma velha cabana distante por ter engravidado misteriosamente. Parentes longíquos iam levar-lhe comida para seu sustento, e assim a índia viveu até dar a luz a uma linda menina, muito branca, o qual chamou de Mani.

A notícia do nascimento se espalhou por todas as aldeias e fez o grande chefe tuxaua esquecer as dores e rancores e cruzar os rios para ver sua filha. O novo avô se rendeu aos encantos da linda criança a qual se tornou muito amada por todos.

No entanto, ao completar três anos, Mani morreu de forma também misteriosa, sem nunca ter adoecido. A mãe ficou desolada e enterrou a filha perto da cabana onde vivia e sobre ela derramou seu pranto por horas.

Mesmo com os olhos cansados e cheios de lágrimas ela viu brotar de lá uma planta que cresceu rápida e fresca. Todos vieram ver a planta miraculosa que mostrava raízes grossas e brancas em forma de chifre, e todos queriam prová-la em honra daquela criança que tanto amavam.

Desde então a mandioca passou a ser um excelente alimento para os índios e se tornou um importante alimento em toda a região.

Mandi = Mani, nome da criança. oca = aca, semelhante a um chifre.



LENDA DO GUARANÁ

O guaraná é um fruto da Amazônia usado para fazer uma soda ou refrigerante de sabor doce e agradável. É uma bebida bastante popular na Amazônia.

A origem deste fruto é explicada na seguinte lenda: Um casal de índios pertencente à tribo Maués viviam juntos por muitos anos sem ter filhos, mas desejavam muito ter uma criança ao menos.

Um dia, eles pediram a Tupã uma criança para completar aquela felicidade. Tupã, o rei dos deuses, sabendo que o casal era cheio de bondade, lhes atendeu o desejo trazendo a eles um lindo menino.

O tempo passou rapidamente e o menino cresceu bonito, generoso e bom. No entanto, Jurupari, o deus da escuridão, sentia uma extrema inveja do menino e da paz e felicidade que ele transmitia, e decidiu então ceifar aquela vida em flor.

Um dia o menino foi coletar frutos na floresta e Jurupari se aproveitou da ocasião para lançar sua vingança. Ele se transformou em uma serpente venenosa e mordeu o menino, matando-o instantaneamente. A triste notícia se espalhou rapidamente. Neste momento, trovões ecoaram na floresta e fortes relâmpagos caíram pela aldeia.

A mãe, que chorava em desespero, entendeu que os trovões eram uma mensagem de Tupã, dizendo que ela deveria plantar os olhos da criança e que deles uma nova planta cresceria dando saborosos frutos.

Os índios obedeceram ao pedido da mãe e plantaram os olhos do menino. Neste lugar cresceu o guaraná, cujas sementes são negras, cada uma com um arilo em seu redor, imitando os olhos humanos.

A LENDA DA VITÓRIA RÉGIA



A maior flor aquática no mundo é a Vitória Régia, nativa da bacia do Rio Amazonas. Suas folhas arredondadas atingem até 2 m de diâmetro e possuem as bordas pronunciadas e levantadas.

A vitória régia flutua graciosamente na água e pode sustentar o peso correspondente ao tamanho de um pequeno animal. Quando floresce, suas pétalas são brancas ou levemente rosadas, com bordas esverdeadas.

Há muitos anos, nas margens do majestoso Rio Amazonas, Naia, uma jovem e bela índia ficava a admirar e contemplar por longas horas a beleza da lua branca e o mistério das estrelas.

Enquanto o aroma da noite tropical enfeitava aqueles sonhos, a lua deitava uma luz intensa nas águas, fazendo Naia subir numa árvore alta para tentar tocar a lua. Ela não obteve êxito.

No próximo dia, ela decidiu subir as montanhas distantes para sentir com suas mãos a maciez aveludada do rosto da lua, mas novamente ela falhou. Quando chegou lá, a lua estava tão alta que retornou à aldeia desapontada.

Ela acreditava que a Lua era um bonito guerreiro - Jaci, e sonhava em ser a noiva desse bravo guerreiro.

Na noite seguinte, Naia deixou a aldeia esperando realizar seu sonho. Ela tomou o caminho do rio para encontrar a lua nas negras águas. Refletida no espelho das águas, lá estava a lua, imensa, resplandecente.

Naia, em sua inocência, pensou que a lua tinha vindo se banhar no rio e permitir que fosse tocada. Ela mergulhou nas profundezas das águas desaparecendo para sempre.

A lua, sentindo pena daquela tão jovem vida agora perdida, transformou Naia em uma flor gigante - a Vitória Régia - com um inebriante perfume e pétalas que se abrem nas águas para receber em toda sua superfície, a luz da lua.



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